O Fundo para a Revitalização e Modernização do Tecido Empresarial (FRME), do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (IAPMEI), avançou nos anos após a crise de 2008 com 10,6 milhões de euros em apoios a cinco empresas de construção e têxtil. Volvidos oito anos, só uma sobrevive.
As restantes quatro sociedades, que receberam um apoio total de 8,6 milhões de euros, acabaram por entrar em insolvência depois de receberem as injeções públicas, arrastando o FRME para a lista de credores e determinando o fim de 2100 empregos. Os dados foram agora avançados pelo ministério da Economia, em resposta ao grupo parlamentar do PCP sobre o desfecho e reembolso dos apoios cedidos pelo FRME a estas cinco empresas.
Sobre as causas para a queda das sociedades em questão, a tutela apontou a “redução da procura”, o “emagrecimento das margens”, o “aumento agressivo da concorrência” mas também as “insuficiências da qualidade de gestão”, indo de encontro a uma das críticas apresentadas pelos deputados comunistas na abordagem feita ao ministério sobre estes cinco casos. “Apesar das significativas verbas aplicadas em cada empresa, apesar de o IAPMEI (…) assumir posições relativas consideráveis na composição do capital social, não reivindicou qualquer lugar nas administrações, deixando a gestão nas mãos de quem teve actos de má gestão”. A esta crítica a tutela não deu qualquer resposta.
As cinco empresas em causa foram a Lerislena – Engenharia e Construções, a Alberto Martins Mesquita & Filhos, a MacTrading, da Maconde, a Facontrofa, da marca Cheyenne, e a Pizarro, de acabamentos de vestuário e lavandarias, a única das cinco ainda em atividade apesar de mal ter sobrevivido à internacionalização.
Antes do avanço dos apoios, os serviços do IAPMEI analisaram os cinco casos, reconhecendo-lhes viabilidade desde que avançassem com reestruturações, justificando assim a “luz verde” aos apoios. Os fundos disponibilizados pelo FRME visam precisamente financiar e promover operações de reestruturação de sociedades.
Destas lista de empresas, a Alberto Martins, empresa de obras públicas de Matosinhos, foi a que teve direito ao apoio mais expressivo. As necessidadesdo grupo para ser reestruturado foram calculadas em 30 milhões e a intervenção estatal entrou com 5 milhões. Contudo, diz o ministério da Economia, “o arrastar da decisão dos bancos quanto ao reforço da liquidez necessária” para a reestruturação levou a que empresa entrasse em insolvência, “na sequência da qual foi liquidada, e em cuja sede o FRME reclamou os seus créditos”.
Ao todo, estas sociedades empregavam 2602 pessoas e, deste total, salvaram-se 500 na Pizarro, ainda assim metade do pessoal com que este grupo contava em 2009, quando ficou em perigo de rutura eminente levando ao avanço de dois milhões de euros por parte do FRME.
Os cinco casos:
Lerislena:
946 mil euros Empresa de obras públicas com 122 colaboradores. A quebra na procura levou a falhar compromissos e a pedir apoio ao FRME. Mas a Ferislena acabou por não reunir condições para a reestruturação e depois de receber 946 mil euros do IAPMEI entrou em processo de insolvência, no qual o FRME reclamou os créditos. O apoio serviu para pagar salários em atraso e contribuições sociais.
AMM &Filhos:
5 milhões de euros A Alberto Martins Mesquita &Filhos, empresa de construção, entrou em rutura financeira e viu-se incapaz de cumprir as suas obrigações. A reestruturação foi calculada em 30 milhões e o FRME entrou com 5 milhões. A banca, porém, arrastou a decisão sobre o processo de reestruturação e a empresa entrou em insolvência e foi liquidada, tendo o FRME reclamado os créditos.
MacTrading:
1 milhão de euros Empresa não conseguiu lidar com o fim do acordo Multifibras, que acabou com barreiras aos produtos asiáticos, e, entre as necessidades de fundo de maneio, os longos prazos de pagamento de clientes e a falta de acesso crédito, pediu a intervenção do FRME, que avançou com um milhão de euros. A empresa não conseguiu dar a volta e entrou em insolvência, com liquidação.
Facontrofa:
1,7 milhões de euros A dona da marca Cheyenne também sofreu com aumento da concorrência e perdeu capacidade de cumprir compromissos perante terceiros. A eminente rutura da tesouraria levou a um pedido de apoio ao FRME. Apesar do investimento, a reestruturação não surtiu quaisquer resultados e empresa foi liquidada depois de receber 1,725 milhões de euros de apoios estatais.
Pizarro:
2 milhões de euros Nasceu como Lavandaria Pizarro e chegou a faturar 20 milhões anuais e a empregar mil pessoas. Mas a tentativa de entrar no Brasil custou vários milhões à empresa sem retorno, com a Pizarro a ficar em rutura e sem crédito. O FRME avançou com dois milhões de euros para apoiar a reestruturação e a empresa ainda sobrevive, ainda que em dificuldades mas com 500 postos de trabalho.
FONTE: Dinheiro Vivo (08/08/2016)