Os números conhecidos hoje, 22 de Fevereiro, no Boletim Estatístico do banco central mostram a continuação do processo de desalavancagem da economia nacional. No entanto, nem todos os sectores ajustaram ao mesmo ritmo. No Estado, por exemplo, a dívida desceu apenas 1,9 pontos entre o final de 2014 e o final de 2015, para os 160,5% do PIB (embora na óptica de Maastricht, aquela que conta para a Comissão Europeia – se tenha observado uma redução de 130,2% para 128,9%).
No sector privado, o ajustamento foi mais significativo. As famílias e as empresas privadas não financeira registaram uma descida de 12,7 pontos percentuais do seu endividamento, que desce assim de 237,7% para 225% num ano. Apesar de a queda ser maior, o sector privado continua muito mais endividado do que o sector público.
Um elevado endividamento das empresas tem sido apontado como um dos principais factores por trás da lenta recuperação do investimento. Concentradas em reduzir a alavancagem excessiva dos últimos anos, muitos empresários decidem travar investimentos futuros para pagar dívidas.
Importa também perceber que empresas estão a contribuir para esta desalavangem. Os números do Banco de Portugal mostram que, para muitas, as coisas estão na mesma. Entre as PME, por exemplo, as dívidas caíram apenas 0,7 pontos no último ano para os 87%. Mais: para as microempresas – a esmagadora maioria do tecido empresarial português – a dívida até cresceu ligeiramente de 36,1% para 36,2% do PIB. Entre as pequenas e as médias há um ligeiro alívio (24,5% vs. 24,1% e 27,1% vs. 26,8%, respectivamente).
O desagravamento do endividamento vem, assim, praticamente todo dos grandes grupos, cerca de mil empresas (por comparação são consideradas 344 mil microempresas), que têm mais margem para fazer descer a dívida. Entre estas empresas, ela passa de 47,8% para 44,3%. A outra categoria onde o endividamento também cai substancialmente é entre as SGPS não financeiras, de 17,2% para 13,5% do PIB.
No total, a dívida das empresas privadas passou de 152,6% para 144,9%. É o terceiro ano consecutivo de descida e o maior pelo menos desde 2007, o primeiro ano para o qual o Banco de Portugal tem dados.
As empresas privadas viram a sua dívida cair 7,7 pontos percentuais em 2015 para os 144,9% do produto interno bruto (PIB). É a maior descida do endividamento dos grupos privados pelo menos desde 2007, primeiro ano para o qual o Banco de Portugal tem dados.
Por último, as famílias também deram uma ajuda ao desagravamento da dívida do sector privado, com o seu endividamento a recuar de 85,1% para 80,2% do PIB entre 2014 e 2015. Um alívio de 4,9 pontos. A fatia mais significativa deste ajustamento ocorreu no crédito à habitação.
FONTE: Jornal de Negócios (22/02/2016)