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EMPRESAS PORTUGUESAS ENTRE AS MAIS ENDIVIDADAS DA ÁREA DO EURO
Em Dezembro de 2015, o nível de endividamento das empresas não financeiras portuguesas permanecia elevado e claramente acima da média da área do euro, representando cerca de 49% do activo. O alerta consta do Boletim Económico publicado esta quarta-feira, no qual o Banco de Portugal (BdP) analisa a evolução da economia portuguesa durante o ano passado.

“Com a crise financeira internacional e as novas regras de supervisão observa-se uma tendência para a compressão do crédito concedido e dos balanços dos bancos. Neste contexto, a capacidade de as empresas continuarem a financiar a sua actividade e os seus investimentos deverá passar por uma estrutura de financiamento mais equilibrada entre dívida e capital, face ao período anterior à crise”, alerta o BdP.

O banco central português dá conta de uma subida gradual do valor dos novos empréstimos bancários a empresas não financeiras em 2015, mas ainda assim o sector empresarial português continua a enfrentar limitações no recurso a crédito para investir, dado que é neste momento um dos que regista maior endividamento na zona euro.

“No contexto da crise financeira global de 2008, o endividamento excessivo das empresas não financeiras foi apontado como um dos principais desequilíbrios existentes na área do euro, com particular destaque para alguns dos seus países-membros, como Portugal e Espanha”, lê-se no relatório do BdP.

Entre o terceiro trimestre de 2007 e o segundo trimestre de 2015, o rácio de endividamento das empresas não financeiras na área do euro atingiu o seu valor máximo no período em análise (cerca de 50%) no primeiro trimestre de 2009. A partir deste ponto, este indicador mostrou uma tendência descendente, parcialmente revertida no início de 2011. O rácio entre a dívida e o activo das empresas não financeiras retomou uma tendência claramente descendente no decurso de 2012, atingindo cerca de 41% no final de 2015 (valor relativamente próximo do verificado no final de 2007).

A situação das empresas portuguesas quanto a este indicador estava próxima da situação para o conjunto da área do euro no início de 2009.

O BdP destaca aqui que, em contraste, em meados de 2012, as empresas não financeiras espanholas, francesas e alemãs” iniciaram um processo de desalavancagem, particularmente acentuado no caso espanhol”, em que o valor da dívida em relação ao activo decresceu cerca de 12 p.p. até ao final do período em análise. Neste último caso, recorda o relatório, a evolução da dívida reflectiu parcialmente o aumento considerável de ‘write-offs’ no fim de 2012, relacionado com a transferência de créditos hipotecários para a entidade gestora dos activos criada na sequência da reestruturação do sistema bancário (Sareb).

Em Portugal e em Itália, o processo de desalavancagem iniciou-se mais tarde. No caso das empresas não financeiras portuguesas, observou-se uma redução lenta do rácio de endividamento de cerca de 4 p.p. entre o final de 2012 e o final de 2015 – ano em que as empresas portuguesas permaneciam com um nível de endividamento de 49%. Por sua vez, o rácio de alavancagem das empresas italianas sofreu uma redução de cerca de 4 p.p. entre o segundo trimestre de 2013 e o final de 2015, para níveis abaixo dos 45%.

Travagem no investimento

Face ao nível de endividamento das empresas e alguma apreensão com as perspectivas de evolução da actividade económica, o investimento voltou a desacelerar em Portugal durante a segunda metade do ano passado. Segundo o BdP, este é um dos principais entraves actuais à retoma económica do país.

O relatório salienta que, na base do menor dinamismo do investimento na segunda metade de 2015, está a componente de máquinas e equipamentos, que apresentou quedas em termos homólogos nos terceiro e quarto trimestres. Contudo, no total do ano, a variação deste indicador foi de 3,9%, contra 2,8% de 2014, devido a um melhor desempenho na primeira metade do ano passado.


FONTE: Económico (04/05/2016)